segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sobre a Globo e a Record

Até teria diversos temas pra comentar, mas acho que ninguém aqui aguenta mais minhas polêmicas sobre religião. Até falarei um pouco disso hoje, mas o enfoque é outro. Afinal, alguém aí também está farto das comparações entre Globo e Record?

A Globo em seus 900 anos de televisão produziu novelas memoráveis, reportagens inesquecíveis e coberturas premiadas. Aqui cabe lembrar das investigações que levaram a prisões e até mortes, como a de Tim Lopes.
Mas as Organizações Globo são geralmente lembradas pelo seu caráter manipulador e pela tirania da família Marinho e cia. A galera das teorias da conspiração, diz que tudo na Globo é manipulado, oculto para que nós, simples mortais, caiamos e obedeçamos suas ordens. Exagero ou não, é bem verdade que a conduta da Globo não é lá das melhores e aí podemos citar diversos fatos históricos, como o apoio à candidatura de Collor em detrimento de Lula (na época um líder da esquerda bem mais ferrenho que hoje em dia). Roberto Marinho também andou cedendo seus atores de primeiro escalão para campanhas políticas, como o plebiscito do desarmamento e, recentemente, esse apoio integral (e muito curioso) à não contrução de Belo Monte. Isso tudo em meio à discursos inflamados do (chato-mor) Arnaldo Jabor, reportagens massantes do Globo Repórter, o famoso 'boa noite' que faz o Titio Bonner parte da nossa família e aquela mania de sempre querer fazer com que acreditemos que o galã da novela das 20h é gente como a gente. Ô louco!
Nas novelas, temas absurdamente polêmicos vieram a tona, como nudez, cenas de sexo, drogas, padres deixando a batina e casos homossexuais. Bom, o primeiro beijo homossexual nós ainda estamos esperando. Independente de ser comentado de forma positiva ou negativa, o capítulo de ontem da novela está diarimente na boca do povo e nas revistas de fofoca.
Falando em padre, assumidamente católica, Padre Marcelo Rossi figurou em diversos programas nos seus tempos áureos e todo domingo de manhã havia exibição da missa (ainda passa?).

Pois tudo ia bem, até que, das cinzas surgiu a Fênix Record. A emissora que antes só passava cultos evagélicos começou a investir e ter seus próprios programas. Passamos a acompanhar a Copa da UEFA por lá (enquanto a Globo exibia A Lagoa Azul, na Sessão da Tarde), depois um programinha de esportes aqui, um programa de variedades ali... e quando nos demos conta, a Record havia desbancado o SBT e assumido o 2° lugar na audiência. Não quero entrar no mérito de como a Record cresceu tanto e em tão pouco tempo, mas o fato é que cresceu. Depois, começaram as novelas, com atores renegados da Globo (muitos voltaram pra Globo depois de fazerem sucesso nas novelas da Record) e com temas, digamos, curiosos. As novelas da Record, que inicialmente eram de época, literárias, passaram a investir em violência, perseguições e coisas que a Globo estava longe de mostrar, atraindo um novo público. Depois, criaram sua própria cidade cenográfica e estava armada a pulga atrás da orelha das Organizações Globo.
Escrevi tudo isso porque acabei de ler uma crítica à novela Vidas em Jogo (atual novela da 22h da Record) em que a colunista do jornal O Globo aponta Vidas como muito ruim. Pois a novela tem dado o que falar graças aos seus capítulos rechados de violência, estupros, sangue, morte e ex-atores de Malhação. Coube à colunista criticar a qualidade desses atores, as cenas que beiram o absurdo e esse excesso de violência - curiosamente, o mesmo exibido, por exemplo pelo (ótimo) Força Tarefa.

Pois além disso, a Record é assumidamente evangélica. Reza a lenda, inclusive, que nas novelas ninguém se casa na Igreja Católica, para que não apareçam imagens de santos (com exceção de uma novela de época, que houve o casamento realizado por um Padre). Do famigerado 'Fala que eu te escuto' à transmissões de mega eventos religiosos na praia, a Record vem atraindo os fiés evagélicos (cujo número cresce cada vez mais) em detrimento da Globo. Essa, por sua vez, exibirá o show evangélico do final de samana passado na sua grade de final de ano. Curioso, no mínimo. E ficam nisso, guerra de audiência disfaraçada em críticas religiosas.

Pra fechar (e pra não dizer que não falei da falta de tolerância religiosa), católicos estão compartilhando no Facebook (maldita inclusão digital!) um boicote a Rede Record já que ela anda pichando a Jornada Mundial da Juventude, evento que ocorrerá ano que vem. Pois a Record denunciou que a deputada Myriam Rios foi ao congresso pedir dinheiro para financiar a tal Jornada. Primeiro, acho que não preciso dizer nada sobre a deputada, não é? Ex-modelo-manequim-abera-a-propostas, a querida se converteu na Canção Nova (tinha que ser!) e anda por aí falando mal dos homossexuais. Pois bem, com esse ótimo currículo, a deputada ainda se acha no direito de achar que o governo deve utilizar dinheiro público num evento religioso! A galera critica a falta de dinheiro pra saúde, critica os gastos em Olimpíada e quer falar de gastar dinheiro em festinha de Igreja? Pois bato palmas para a Record em denúnciar, sendo o interesse realmente social, religioso ou puramente em termos de audiência.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sobre Tolerância Religiosa - Parte 3

Depois de um hiato de longos (e exatos) 10 meses, me deu saudade de escrever aqui. Mas não sei se é uma volta definitiva, isso só o tempo dirá.
Não diria nem que meu post de hoje é exatamente sobre tolerância religiosa, mas quis seguir a linha dos post anteriores. Minha postagem de hoje é sobre hipocrisia religiosa, isso sim.

Hoje, dia mundial do combate a AIDS. De um lado, a imprensa tentando nos mostrar que os portadores do vírus são pessoas normais, que levam uma vida normal. De outro, a vida nos mostrando os efeitos colaterais brutais que o coquetel apresenta. E no meio as Igrejas Cristãs, querendo impor que a correta prevenção não é a camisinha, mas o sexo seguro.



Bom, isso é um assunto longo e chato de ser discutido. Até que ponto a Igreja pode interferir na prevenção de doenças? Falei que o texto de hoje seria sobre hipocrisia religiosa porque o primeiro passo para aceitar essas ideias, de que apenas o sexo seguro pode prevenir a AIDS é: As pessoas que compartilham dessa ideia na vida e no facebook, realmente seguem isso na vida real? Realmente se guardam para o casamento (como diz a Igreja em geral)? Porque, seguir todos os mandamentos da Bíblia é praticar sexo apenas com fins reprodutivos, ou seja, sem a busca pelo prazer. Será que todo mundo que diz seguir os preceitos da Igreja, age exatamente dessa forma? São perguntas que só a própria consciência de cada pessoa pode responder.
A imagem também diz que 'não se combate um mal com outro'. Dizer que a camisinha é um mal tanto quanto a AIDS é um pouco forçoso, não? A camisinha é a forma de prevenção mais segura e eficiente, uma prova de avanço absurdo (se levarmos em conta os antigos métodos contraceptivos) e salva vidas todos os dias. Dizer que a camisinha evita a geração de uma vida é retrógrado e, desculpem, mas uma grande burrice. Espermatozóide não é vida! E se o fosse, várias outras formas de se sentir prazer também seriam 'abortivas'. Diga que se previne da AIDS com o sexo seguro, ok, mas não diga que a camisinha é um mal. Talvez se populações da África tivessem acesso à camisinha, a AIDS não mataria milhões. Talvez se moradores da favela tivessem acesso à informação, não teriam filhos todos os dias. Antes de pregar a santidade, a castidade, deve-se perceber o mundo em que vivemos. Eu não posso pregar o 'alimento divino', se falta o alimento real, a comida. Então, Igrejas (leiam-se pessoas que proclamam alguma fé), pensemos no mundo real, antes de pensar no mundo divino.

Outra assunto que vem circulando pelo facebook (e circulará ainda mais com a chegada do Natal) é sobre o verdadeiro espírito natalino. Pregam que o nascimento de Jesus é o que realmente importa e não crianças ganhando presentes. Pois qual desses que crê nesse espírito não gosta de ganhar presentes? E os olhos de uma criança pobre, recebendo presentes de Natal, não é o nascimento do próprio cristo? Então, pra quê essa hipocrisia idiota de que o Natal foi feito para apenar adorar a Jesus. Qual de vocês segue o que divulga?

Que esse post seja uma análise de consciência pra muito cristão que está sendo mais pagão que os que ele aponta.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os 5 Melhores Livros da Minha Vida.

Dizem que um homem pra ser feliz tem que fazer um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Já plantei uma macieira, lá na minha infância, no lugar que eu mais amava, Saquarema. Pretendo ter um filho, mas escrever um livro não está nos meus planos, acho. Enquanto isso, vou me deliciando com pessoas que cumpriram essa meta de vida perfeita, que me renderam muitos risos e muitas(muitas mesmo) lágrimas. Minha avó, que lê do dicionário ao obituário do jornal, me disse uma vez que não existe livro ruim, todos nos deixam sempre algum tipo de ensinamento. Estou procurando a moral da história de alguns até hoje (entre eles, o clássico O Guarani). Mas tem uns que sempre são especiais, e esses eu chamo de 'Os Melhores Livros da Minha Vida'. Aí vão (não necessariamente nessa ordem):

A Arte de Correr na Chuva - Garth Stein
Esse livro veio pra mim meio que por acaso. Vocês se lembram que na bienal tinha um posto da Estante Virtual em que você trocava seus livros usados por outros? Então, troquei o meu por esse, simplesmente porque se tratava da história de um cachorrinho.
Mas o livro vai muito além disso. O autor, um fã confesso do Ayrton Senna, intercala capítulos da história com capítulos de comparações entre a vida e o título do livro, a arte de correr na chuva. Pra quem (como eu) não entendeu de cara a comparação, Ayrton era O Cara nas corridas com pista molhada. Enzo, o cachorro-narrador, conta toda a sua vida ao lado de seu dono, da sua perspectiva de cão inteligente, que amava assistir Discovery Channel e corridas.
Uma história lindíssima, comovente, que arranca lágrimas de muitos marmanjos. E, em muitos momentos, uma grande lição de vida. Ah, quem tem cachorro em casa nunca mais olhará pro seu quatro patas com os mesmos olhos, depois desse livro.


Quincas Borba - Machado de Assis
O primeiro clássico a gente nunca esquece. Principalmente quando se lê por conta própria, sem imposição do professor de literatura. Quincas Borba foi daqueles que me convenceu aos poucos. Comecei a ler. Achei chato. Parei. Uns três meses depois voltei a ler. E, me apaixonei. Não só pelo livro, mas por Machado de Assis (ainda que Quincas Borba seja o meu preferido). O filósofo Quincas Borba, fundador do Humanitismo (uma filosofia genialmente criada e descrita por Machado), que aparece primeiro como um amigo de Brás Cubas (no também maravilhoso Memórias Póstumas), ressurge nesse livro já a beira da morte e deixando sua herança para o enfermeiro Rubião. O que acontece com Rubião depois que ele decide ir para o Rio de Janeiro? Só lendo para crer. Ah, Quincas Borba, o cachorro, também é um capítulo a parte, literalmente. E pra terminar, é claro, 'Ao vencedor, as batatas'!


Olhai os Lírios do Campo - Érico Veríssimo Ter mãe formada em Letras tem seu lado bom: O livro que você quiser, tem em casa. E foi assim, meio sem querer, meio que pela capa, que resolvi ler esse livro. Talvez porque fosse Érico Veríssimo! A primeira coisa que me chamou atenção nesse livro foi o prefácio. Na edição que eu tenho, Érico diz não entender o porquê do sucesso do livro, afinal, os personagens são irreais, extremos demais. É o criador criticando a criatura! Mas ainda assim, resolvi ler. A história gira em torno de Eugênio, que teve uma infância humilde e muita vergonha da pobreza dos pais. Com muito sacrifício, se forma em Medicina. Na faculdade conhece Olívia, também pobre, com quem mantém um relacionamento, que logo termina quando ela se muda pra outra cidade. Já Eugênio, conhece uma mulher rica e se casa, se tornando rico, enfim. Mas uma carta de Olívia e posteriormente um telefonema, criam um conflito na cabeça do protagonista. Até que ponto vale abrir mão de ser feliz, pelo dinheiro? Não pensem que é uma história de amor, o livro vai muito além disso. É mais um que é, acima de tudo, uma história de vida.


Um Certo Capitão Rodrigo - Érico Veríssimo
Esse foi meu primeiro livro do Érico Veríssimo! Depois, além do já citado Olhai os Lírios do Campo, li ainda o apaixonante Clarissa. Se quiser saber sobre o tal Capitão Rodrigo, pergunte a sua mãe, que com certeza viu Tarcísio Meira interpretando-o, na minissérie O Tempo e o Vento nos anos 80. O livro, criado a partir de outro do autor, O Tempo e o Vento, conta a história de um homem que chega ao Sul. Auto Confiante com mulheres, bebidas e guerras, o Capitão Rodrigo conquista Bebiana, apaixona-se e casa-se, ficando de vez na região de Santa Fé. Porém, Rodrigo não nega às origens e vive envolvendo-se em brigas e casos extra-conjugais. Quando a Revolução Farroupilha estoura, Rodrigo volta às armas para defender sua família. E o final é surpreendente.


O Terminal - Robin Cook
Esse maravilhoso livro eu achei garimpando a casa da minha avó. É um suspense médico incrível! O livro conta a história do residente Sean, que está estagiando no Forbes, um hospital de referência num tipo raro de câncer. Porém, ele começa a estranhar a quantidade de quadros revertidos da doença e decide se informar mais a respeito dos métodos desenvolvidos no Forbes. Ao perceber que esse interesse não é bem aceito pelos funcionários do Hospital, Sean decide investigar por conta própria as estranhas ligações dos médicos e diretores do Forbes. O que ele descobre não vale a pena ser contado, tem que ser lido! Paralela a essa trama, mulheres com câncer de mama morrem sequencialmente e misteriosamente dentro do hospital. E esse Serial Killer é muito surpreendente! Um livro que com certeza encantará os amantes da Medicina, mas que deve ser lido por todo mundo que ama suspense e o bom e velho 'quem matou'!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A mulher e o pecado

Da sacada do seu quarto, ela olhava para a piscina.
Por trás dos seus óculos escuros, que cobriam os olhos castanhos.
Era bonita, ainda que tivesse quarenta e poucos. Bonita, ainda que tivesse dois filhos homens. Bonita, ainda que casada.

Olhava fixamente para a piscina.
E lá estava ele.
Cabelos lisos. Corpo moreno, bem definido.
Era isso, parecia um índiozinho.
Riu sozinha da sua conclusão boba. Bastante boba para uma mulher da sua idade e posição social.

Desviou o olhar para o porta retrato.
Seu casamento. A formatura do filho mais velho.
Médico, como o pai.
O aniversário do filho mais novo.
Tinha os olhos verdes dos pai.

Mas eram aqueles olhos castanhos que lhe chamavam a atenção.
E não era de hoje.
Ela o viu crescer. Deu as melhores escolas. E hoje o via entrar na faculdade.
Era o último dia dele na sua casa.
Contrariando a sociedade, o filho da empregada acabara de passar no vestibular.
Seria engenheiro, como sempre sonhou.
Seria eternamente grato a ela.
'Eternamente grato a mim.' - Pensou alto.

'Não, não pode.
Não, não eu.
A mulher do melhor cirurgião de São Paulo.
Não, não.
Ele é o filho da empregada.
Senhor, esse menino tem 18 anos.
Não. Definitivamente não.
O que meus filhos vão pensar?
De onde vem isso?'

Seu marido só viajava.
Suspeitava de uma secretária que estava sempre com ele.
Mas evitava escândalos.

'E se ele me traía?
Não posso fazer o mesmo?'

Pensava nas outras meninas.
'Nunca trouxe nenhuma namoradinha para a mãe conhecer.'
Olhava para sua boca.
'Qual é o seu gosto, menino?'
Qual o gosto desse corpo, que fazia ela, ainda que católica, pensar todos os pecados que nem o diabo seria capaz de imaginar?

- Eduardo, você pode chegar aqui?

'Meu Deus, eu não falei isso.'

- Claro, D. Aline. Deixa só eu me secar.

Enquanto o menino passava a toalha pelo corpo, ela imaginava o quanto queria que suas mãos pudessem ser aquela toalha. Percorrer. Brincar. Morder. Arranhar.
Saciar os seus desejos de mulher. Com um menino.

Lembrou-se que, depois disso, definitivamente não iria para o céu.
Sorriu.
O pecado a atraía como nunca.

- Posso entrar, D. Aline?
- Claro.

Olhou-o de cima a baixo, por trás da lente de seus óculos escuros.

- Parabéns. Pelo vestibular. Fiquei muito orgulhosa de você.
- Que nada. Eu que tenho que agradecer a senhora. Obrigado. - E abraçou a sua protetora.

Ele via uma mãe. Ela via um homem.

- Preciso falar com você, Eduardo. - E fechou a porta do quarto.

No dia seguinte, ele foi para faculdade.
Despediu-se dela, com um beijo no rosto e um abraço de agradecimento.

Como se nada tivesse acontecido.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Homem e Mulher.

O que ele viu nela?

Os olhos fascinantes de Capitu?
O sonho de ter nela a mulher que sempre quis?
A mulher por trás daquela menina?
Ou a menina por trás daquela mulher?

Ele desejava aquele turbilhão de sentimentos?
Ele queria o corpo, a boca, queria prazer, queria suor e respiração ofegante?
Ou ele queria a serenidade de uma palavra, o conforto do carinho dela?
Ele queria seus cabelos loiros, lisos, seus olhos azuis?
Ou ele queria seus cachos desarrumados e olhos profundos?

Ele queria as olheiras ou a maquiagem?
Ele queira como todos a desejavam, ou ele queria mais?
Mais e mais. E cada vez mais.

Se alimentava dela.
Vivia por ela. Queria.
Desejava seu corpo.
Olhos.
Boca.
Roupas no chão.


O que ela via nele?

Um homem ou um admirador?
A realidade ou o sonho?
Queria ter mais um aos seus pés ou queria amá-lo?

Talvez não faça seu tipo.
Alto demais.
Magro demais.
Apaixonado demais.

Talvez ela prefira ficar sozinha.
Sem ele. Com eles.

Olhava. Deixava ele tocar.
Brincava, disfarçava.
Até quando?


Ele nutria a vã esperança dada por ela.
Brincava com os sentimentos dele para satisfazer o prazer louco dela em ser desejada.

O que ela era?
Ela era louca. Era apaixonada. Era cruel. Era má.
Mas era boa. Era inocente. Era vilã e era mocinha.
Ela era mulher.

O que ele era?
Ele era quente. Era instável. Era amoroso.
Era forte e era inseguro. Sofria e fazia sofrer.
Ele era homem.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eu e Ele

Ele me olhava, eu achava.
Ele me amava, eu achava.
Ilusão de criança? Talvez sim.
Ele passou e eu fiquei.

Ele me olhava? Certeza que não.
Ele me amava? Não. Absolutamente não.
Mas eu queria, eu desejava, eu queria.
Queria pra mim, como criança.
Queria os beijos, queria o corpo, queria o cheiro.
Mas ele não.
Ele passou. E eu? Fiquei.

Ele me olhava com desprezo.
Ele amava a outra.
Eu era feia. Eu era triste.
Eu não era. Ele era. Ele e ela.
Ele passou. Ela passou.
Eu fiquei.

Ele me olhava. Eu não.
Ele me amava. Eu não.
Ele e a outra. Eu e eu.
Ele desejava, ele amava, ele queria.
Eu, quando dei por mim, queria também.

Ele me amava. E eu também.
Ele ficou. E eu fiquei.
Pra sempre.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Tô precisando me libertar.

Tô precisando encher a cara.
Tô precisando sair com meus amigos.
E só voltar no dia seguinte.
Tô precisando cortar o cabelo como eu sempre quis.
Mas nunca tive coragem.
Tô precisando fazer uma tatuagem.
Como eu sempre quis, mas nunca tive coragem.

Tô precisando trabalhar.
Me sustentar, ganhar.
Tô precisando sair de casa.
E deixar meus pais terem a vida deles.
E eu a minha.
Tô precisando pintar o cabelo.
De vermelho.
Tô precisando me maquiar.
De preto.
Tô precisando usar as roupas que eu gosto.
Mesmo que sejam coloridas demais pra você.

Tô precisando ouvir música.
Alto. Muito alto.
Tô precisando fazer uma trilha, nadar na cachoeira.
E pular de asa delta.
Tô precisando dançar.
Até minhas pernas não me obedecerem mais.
Tô precisando conhecer pessoas.
Ricos e pobres, maus e bons.

Tô precisando subir o morro.
Conhecer as crianças que sonham.
Sonham ser tudo que um dia eu sonhei também.

Tô precisando matar alguém.
De rir. De amor. De prazer. De beijos.
Tô precisando beijar alguém.
Por prazer. Ou por amor. Ou por nenhum dos dois.
Tô precisando me livrar de rótulos.
Tô precisando amar.
A mim mesma.

Tô precisando me olhar no espelho.
E ver como as espinhas sumiram.
Mas as olheiras apareceram.

Tô precisando tanta coisa.
Tô precisando CRESCER.