segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A mulher e o pecado

Da sacada do seu quarto, ela olhava para a piscina.
Por trás dos seus óculos escuros, que cobriam os olhos castanhos.
Era bonita, ainda que tivesse quarenta e poucos. Bonita, ainda que tivesse dois filhos homens. Bonita, ainda que casada.

Olhava fixamente para a piscina.
E lá estava ele.
Cabelos lisos. Corpo moreno, bem definido.
Era isso, parecia um índiozinho.
Riu sozinha da sua conclusão boba. Bastante boba para uma mulher da sua idade e posição social.

Desviou o olhar para o porta retrato.
Seu casamento. A formatura do filho mais velho.
Médico, como o pai.
O aniversário do filho mais novo.
Tinha os olhos verdes dos pai.

Mas eram aqueles olhos castanhos que lhe chamavam a atenção.
E não era de hoje.
Ela o viu crescer. Deu as melhores escolas. E hoje o via entrar na faculdade.
Era o último dia dele na sua casa.
Contrariando a sociedade, o filho da empregada acabara de passar no vestibular.
Seria engenheiro, como sempre sonhou.
Seria eternamente grato a ela.
'Eternamente grato a mim.' - Pensou alto.

'Não, não pode.
Não, não eu.
A mulher do melhor cirurgião de São Paulo.
Não, não.
Ele é o filho da empregada.
Senhor, esse menino tem 18 anos.
Não. Definitivamente não.
O que meus filhos vão pensar?
De onde vem isso?'

Seu marido só viajava.
Suspeitava de uma secretária que estava sempre com ele.
Mas evitava escândalos.

'E se ele me traía?
Não posso fazer o mesmo?'

Pensava nas outras meninas.
'Nunca trouxe nenhuma namoradinha para a mãe conhecer.'
Olhava para sua boca.
'Qual é o seu gosto, menino?'
Qual o gosto desse corpo, que fazia ela, ainda que católica, pensar todos os pecados que nem o diabo seria capaz de imaginar?

- Eduardo, você pode chegar aqui?

'Meu Deus, eu não falei isso.'

- Claro, D. Aline. Deixa só eu me secar.

Enquanto o menino passava a toalha pelo corpo, ela imaginava o quanto queria que suas mãos pudessem ser aquela toalha. Percorrer. Brincar. Morder. Arranhar.
Saciar os seus desejos de mulher. Com um menino.

Lembrou-se que, depois disso, definitivamente não iria para o céu.
Sorriu.
O pecado a atraía como nunca.

- Posso entrar, D. Aline?
- Claro.

Olhou-o de cima a baixo, por trás da lente de seus óculos escuros.

- Parabéns. Pelo vestibular. Fiquei muito orgulhosa de você.
- Que nada. Eu que tenho que agradecer a senhora. Obrigado. - E abraçou a sua protetora.

Ele via uma mãe. Ela via um homem.

- Preciso falar com você, Eduardo. - E fechou a porta do quarto.

No dia seguinte, ele foi para faculdade.
Despediu-se dela, com um beijo no rosto e um abraço de agradecimento.

Como se nada tivesse acontecido.

5 comentários:

  1. O que que vc está comendo no café da manhã? Tá escrevendo melhor do que nunca! xD
    Parabéns pela coesão no texto. E continue a escrever sempre. o//

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  2. Muito bom, Carol. Está de parabéns!

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  3. muito bom mesmo...adorei sem kao...muito bom!!!

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  4. Muito bom! Definitivamente melhor a cada dia!

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