Sobre Tolerância Religiosa - Parte 2

Tento não me irritar com coisas que ando vendo, mas está difícil. Mais uma vez, vou mostrar duas decepções recentes. Eu não deveria falar em 'decepção', porque é uma palavra que indica que acreditávamos numa coisa e a resposta é negativa.
Na verdade, no meu caso, é comprovação de uma insatisfação a respeito de duas instituições as quais eu já não creditava muita esperança.

O primeiro exemplo está dentro da minha casa, da minha fé. Como já disse, sou católica. Não por crer e aceitar tudo que a Igreja Católica prega, mas por ter encontrado pessoas com a cabeça minimamente parecida com a minha. Pra surpresa de muitos que não têm acompanhado as recentes diretrizes do catolicismo, lá pelos anos 70 surgiu um movimento dentro da Igreja Católica chamado Canção Nova. Não me perguntem o que é, do que se trata ou qual a sua espiritualidade. Não sei, mas sei que é diferente da minha.
O que vem ao caso é que a Canção Nova tem sido criticada por muitos por criar quase que uma nova Igreja dentro da Igreja já existente. Citando um maravilhoso professor de História que eu tive, Carlos Prima, a Igreja vem enganando muita gente quando bota músicas na missa e chama jovens. Parece que ela está se renovando, mas na verdade está regredindo, tornando-se cada vez mais conservadora, controladora e intervencionista. Basta estudar um pouco pra vermos o quanto o catolicismo é atrasado em certos termos e alheio a algumas mudanças do mundo.
Mas o assunto não era esse. Citei um breve resumo sobre a Canção Nova porque o assunto que criticarei foi instigado por um Padre da mesma Canção Nova, Padre José Augusto.

Recentemente recebi um email que falava a respeito de uma carta, publicada no blog do Padre Brígido Lima criticando a postura do Padre José Augusto.
O que ocorreu foi que o Padre da Canção Nova durante a homilia de sua missa resolveu falar sobre política. Não, Padre, o senhor não pode usar o tempo de proclamar o evangelho para induzir os seus fiés.
Aqui está a carta.
E aqui está o vídeo do Padre José Augusto.
Assistam. Ele fala de política apenas do meio em diante, mas vale a pena assistir o vídeo todo pra perceber como nossa Igreja às vezes parece tão perdida. No começo ele fala a respeito dos homossexuais, diz que Deus criou homem e mulher e ainda debocha dos homossexuais! Assim como Silas Malafaia, que espalhou outdoors pela cidade falando a mesma coisa. São farinha do mesmo saco pra mim. E quanto aos homossexuais, reforço o que eu já citei aqui, Deus pode ter feito homem e mulher, mas acima de tudo, Ele nos fez pra sermos felizes.
Mas o que realmente me chamou atenção nessa parte foi quando ele cita uma espiritualidade específica da Canção Nova: 'Prove que você é de Cristo, ore em línguas'. Não entendo e não sei nem se acredito nessa oração em línguas. Mas, para mim, provar que é de Cristo não é orar em línguas, mas sim fazer o bem, 'amar ao próximo como a ti mesmo'. Isso é viver o cristianismo. Aliás, independente da sua religião.

Depois quando ele fala em política, diz que não vai votar em quem dá 'empreguinhos', mas tira Cristo. Aí eu não preciso falar mais nada porque basta ler a carta do Padre Antônio Brígido. Esses são pessoas que vivem na riqueza, não conhecem a pobreza de verdade. Uma pena ver que um Padre, que deveria integrar suas ovelhas, só conhece os fiés que têm condições de dar o dízimo.


Vamos ao próximo atestado de desespero religioso. Semana passada minha mãe me ligou, já sabendo do ódio (com o perdão do sentimento ruim) que eu tenho para com o Pastor Silas Malafaia, pedindo para que eu ligasse na Rádio Globo para ouvir um debate incluindo o dito cujo. O debate era entre Malafaia e um líder gay a respeito do outdoor já citado aqui no blog, em que o Pastor aparece sorrindo e apontando para a frase 'Em favor da família e preservação da espécie humana. Deus fez macho e fêmea'.
Pois bem. O rapaz que representava a comunidade gay falava bem, calmo, pausadamente. Mas quando acusado de que a aprovação de uma lei confusa que diz ser proibida a demissão de um trabalhador assumidamente gay (porque seria preconceito) havia sido aprovada de madrugada, com a presença de poucos parlamentares, se perdeu nos seus argumentos. O Pastor, gritando como lhe é característico e convincente como todos os que detêem o dom da palavra, engoliu o rapaz no debate. Infelizmente. Convenceu tão bem, que até o mediador Roberto Canázio acabou por ficar do seu lado, implicitamente.
Silas Malafaia disse que colocou o outdoor como uma provocação mesmo e que a liberdade de expressão lhe permite falar o que quiser. Criticou grupos que picharam e riscaram o seu outdoor. A conversa descambou para a discussão, tendo que ser várias vezes interrompida e os emails não foram lidos porque, segundo Canázio, eram infinitos.
Mas tudo bem, já esperava que o poder de convicção do líder da Assembléia de Deus fosse melhor que o do militante da causa gay. Sinto muita pena das pessoas que são enganadas por esse homem. Não ficaria com tanta raiva se ele não tivesse encerrado o programa dizendo 'O homossexualismo é a primeira porta para a pedofilia.'
Só tenho a dizer que esse homem devia lavar sua boca IMUNDA pra citar o nome de Deus.

Encerro citando o que a Daniele Monteiro me disse via Twitter, com muita razão aliás: 'O mais triste é ver que Jesus veio cultivar o amor. Só que o homem quando fala em nome dele só cultiva ódio e intolerância'.

E deixando como complemento no assunto o blog do meu amigo Felipe Novaes, que é ateu e prova que entende muito mais de religião do que muitos que pregam por aí.

E fazendo mais uma citação, agora do meu amigo Jandir, que disse a respeito do meu outro post sobre religião:
Tem alguma coisa MUITO errada no caminho pro céu.

PS. Minha intenção não é desrespeitar ou ir contra qualquer crença ou religião. Estou apenas dando a minha visão.